TODOS OS BICHOS DE NÊ SANT’ANNA
SOBRE AMORES
E CONVITES
Se hoje eu
estou aqui, escrevendo para vocês, é porque o tempo começou a bordar minha
história 100 anos atrás, quando os meus avós paternos convidavam para o seu
casamento. Meu pai emoldurou uma cópia desse convite, preservando essa memória.
Para a coluna de maio, garimpei nos “bordados do tempo” preservados no Acervo
Histórico Digitalizado Chico Maria outros convites de casamento e, nos meus
poemas algumas facetas e nuances sobre o amor. Para outros “garimpeiros”,
informo que o Acervo Histórico Digitalizado Chico Maria está disponível para
consulta no Ponto de Cultura e no MHIPI.
VÍCIO
Amor
adolescente
deixa
marcas na gente:
às vezes
nos flagramos
numa
busca frustrante,
da
sensação primeira e eletrizante,
em todos
os outros amores... inexistente.
LABAREDAS
Fogo...
Fogo vivo,
ardendo em chamas vermelhas,
inflamando
uma história.
Fogo...
Fogo
ardente,
labaredas
escaldantes,
consumindo
a cama.
Fogo...
Fogo
brando,
fogo
morno,
nuances
azuis,
queimando
na lareira,
esquentando
os pés.
Fogo...
Fogo
calmo,
leves
brasas,
refletindo
a brancura dos lençóis castos,
transparentes.
Fogo...
Quase
nada,
as chamas
acinzentadas,
não
desenham labaredas.
O ar é
morno,
e as
noites... Iguais.
As
labaredas se apagando...
Fogo?
Fogo
morto!
(poema
selecionado e publicado na Antologia do Mapa Cultural Paulista – edição 1995)
UM FLASH SOBRE O AMOR
Amor é
território sem lei
sem ética, sem
regras
sem fronteiras,
sem pudores.
...
Amor sem paixão
é morno
não pulsátil
não visceral
não leva ao
inferno e ao céu.
(Em minutos,
por qualquer gesto
bobagem ou ciúme).
Amor com paixão
é tesão na pele,
brigas
madrugadas a dentro
instinto animal
de marcar território
desejo de matar
ou arrancar os olhos
de quem nunca –
ao menos – se viu.
...
Amor “adulto” é
sem graça,
lógico, racional
sexo burocrático
orgasmo sem
gozo.
Amor adolescente
(ainda que em qualquer idade),
é incerteza,
frio na espinha
gozo sem sexo,
fogo ardente.
É sentir os
poros em brasa
por um olhar, um
gesto
ou uma palavra.
É querer morrer
num instante
e viver no
seguinte,
sem o menor pudor
de brigar,
de fazer bico,
de fazer cócega,
de ter ciúme, de
ser meio bicho!
(E até de ser
invasivo).
...
Amor não tem
explicação
lógica, senso
crítico
muito menos de
ridículo.
Mas, talvez, se
não fosse assim
temperado a gozo
e dor
não traria a
sensação inebriante
de plenitude e
momentânea paz
que nada mais,
no mundo, traz.
...
(Poetas não
decodificam o amor
poetas apenas apontam,
se é que
apontam,
nuances dessa
magia de pura incerteza
que grande parte
dos amores permeia).
Lindo Nejme...acho que ainda guardo meu convite de casamento...é uma lembrança boa, mas a gente quase nem lembra de guardar isso né? Bjs!
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