Todos os bichos de Nê Sant’Anna
Esse mês o “cardápio” da coluna é
uma crônica e o InPalavras: Poesia Entrelinhas, um “desafio” para os leitores,
pois cada um pode enxerga-lo e/ou
interpretá-lo de uma maneira. Deixem suas impressões. No blog www.portaldamarambaia.blogspot.com.br,
vocês podem continuar a “degustação” de outros textos: poemas, contos,
InPalavras e o romance Portal da Marambaia.com. Aguardo visitas. Até o próximo
mês!
PROGRAMAÇÃO DE FÉRIAS
Eu andava, distraído, pelo shopping olhando vitrines. Enquanto batia os olhos no imenso cartaz da
agência de viagens, que prometia a logística perfeita para a realização de
qualquer desejo, observei um senhor, de uns prováveis setenta anos, dirigir-se
a sorridente e elegante vendedora que o abordara. Assim que se sentaram, como
quem não quer nada, me acomodei numa poltrona e, aparentemente mergulhado na
leitura do grosso catálogo da agência, pude ouvir o inusitado diálogo:
– Pois não, seu Roberto. Certamente encontraremos o local perfeito para o
senhor. O senhor pretende viajar sozinho ou com a família?
– Sozinho. Uma espécie de ano sabático.
– Entendo. Talvez o senhor esteja pensando em uma viagem para o exterior,
ou, até mesmo conhecer ou revisitar algum paraíso turístico...
– Não, minha filha, tudo muito longe e complicado. Passaporte, vistos,
bagagens...
– Ora, nossa agência providencia tudo. Basta o senhor fazer as malas e
aproveitar.
– Pois é, fazer as malas! Uma coisa maçante. A gente sempre leva coisas
de mais ou de menos. E pior que fazer malas é desfazê-las.
– Isso também poderá ser resolvido. Temos alguns funcionários que
realizam esse tipo de tarefa.
– Nossa, que maravilha; estou começando a ter esperanças que nesta
agência encontrarei a programação de férias que desejo.
– Com certeza! Diga-me, seu Roberto, qual o seu sonho para essas férias?
– Não me importa o lugar. Quero tirar férias de mim mesmo!
A solícita vendedora embranqueceu por um instante, mas logo retomou a
atitude profissional sugerindo vários roteiros. O potencial cliente agradeceu,
apertou-lhe a mão e saiu.
Eu, curioso, segui seus passos até o estacionamento. Notei que andava
devagar, meio cabisbaixo, e, algumas vezes, suspirava como quem acorda
bruscamente de um sonho bom.
InPalavras: Poesia Entrelinhas |
Adoro essa coluna! Os textos são ao mesmo tempo divertidos e levemente melancólicos. Jorge Luís
ResponderExcluirGosto e muito dos seus textos. Quanto a crônica, tenho que concordar que fazer as malas ou desfazê-las não é nada agradável. Do mais, preciso de férias da minha pessoa também. Estou perdendo o tesão nas coisas que faço. Isso é uma fézis!!! Bjs pr'ucê.
ResponderExcluirAs vezes tudo cansa, mas, também as vezes, supostamente do nada a gente consegue enxergar coisas diferentes nas mesmas coisas e aí o encantamento da vida se renova. Vale lembrar Marta Medeiros: entender-se no possível e aceitar-se no impossível. Bjs Ti. Nê Sant'Anna
ResponderExcluirAs vezes tudo cansa, mas, também as vezes, supostamente do nada a gente consegue enxergar coisas diferentes nas mesmas coisas e aí o encantamento da vida se renova. Vale lembrar Marta Medeiros: entender-se no possível e aceitar-se no impossível. Bjs Ti. Nê Sant'Anna
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