sexta-feira, 8 de agosto de 2014

MÚLTIPLOS OLHARES


TODOS OS BICHOS DE NÊ SANT’ANNA


SOBRE PAIS E FILHOS
Por seis anos, no mês de agosto – no qual se comemora o dia dos pais, não tive coragem de publicar nessa coluna o texto que escrevi para meu pai no dia exato de oito meses do seu sepultamento. Fui “salva” por outros textos, em sua maioria enviados pelos presidiários que participam de nossos projetos.
Deixei meu texto no caderno, por pura covardia de reviver minhas dores, e, só esse ano, tomei coragem para compartilhá-lo. Então, pai, a coluna desse mês é para você, porque pai a gente não esquece, mesmo que os anos passem. E, sem vergonha alguma, confesso que choro todas as vezes que leio esse texto, porque me confronto, inevitavelmente, com a saudade, os vários sentidos da vida e da morte e a dura certeza de não mais ter a sua mão protetora sobre a minha cabeça.


 SAUDADES DO “VELHO” ABUNA (em um poema e em um insight)

Faz oito meses,
exatos oito meses,
que enterrei meu pai.
Faz oito meses,
exatos oito meses,
que procuro e descubro,
nos escombros banais,
outro pai e o mesmo pai.
Faz oito meses,
exatos oito meses,
que eu descobri a finitude da vida,
e os grandes dramas,
tecidos na aparente banalidade dos dias.
Faz oito meses,
exatos oito meses,
que vi meu pai num caixão.
Segurei as lágrimas,
chorei sozinha,
e tento desatar e amarrar meus nós.


Insight: SOBRE A VIDA, A MORTE, LAÇOS E TOMATES

Meu pai plantou um pé de tomate, no jardim da casa de meu irmão, pouco tempo antes de morrer; agora deu frutos. Acho que assim é a vida. Hoje percebo muitas coisas que ele quis, em vida, nos passar. E, como o pé de tomate, a seu tempo, frutificaram. Fazemos na vida o que podemos; meu pai deixou muitas histórias e também muitos gestos de bondade, e eu sei que agora ele encontrou a paz em Deus. Eu, como todos, estou fazendo na caminhada da vida o melhor que posso. E muitas vezes, desde a morte de meu pai, me flagro tentando – nem sempre conseguindo, pôr em prática dois traços de sua personalidade: a calma e a tranquilidade, que ele traduzia repetindo sempre um velho ditado: “do couro sai a correia”. 12 de setembro de 2008.


Meu pai e meu filho Gabriel – 1996



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