TODOS OS BICHOS DE NÊ SANT’ANNA
Dia 30/11/2012 comemoraremos a Emancipação Política de Iepê. O texto dessa semana é uma inspiração e uma homenagem a essa data. E para refletirmos, nunca esquecermos e divulgarmos: IEPÊ foi fundada para ser um lugar LIVRE, no qual reinaria uma Cultura de PAZ e ACOLHIMENTO a todos (sem discriminações) que aqui chegassem. Alicerçada nesses ideais, Iepê nasceu, portanto, para por um PONTO FINAL nas perseguições políticas e religiosas que existiam no povoado de São Roque e para ser UMA TERRA PARA TODOS, e essa é uma HERANÇA HISTÓRICA que não podemos deixar esquecida, mas que deve pautar nossas reflexões sobre a cidade que construímos a cada dia.
“LIBERDADE, LIBERDADE ABRE AS ASAS SOBRE NÓS E QUE A VOZ DA IGUALDADE SEJA FEITA NOSSA VOZ”
Em abril de 1923, no Brasil há 34 anos, 11 meses e alguns dias já não existia escravidão, no entanto, as mulheres não tinham conquistado o direito de votar, os “coronéis” dominavam a política através dos seus Currais Eleitorais, o voto não era secreto, uma grande parte da população era analfabeta e no ano anterior acontecera a Semana de Arte Moderna. Na Europa, ainda sob os efeitos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), fascistas e nazistas conquistavam espaços para dominar a cena política e espalhar mundo afora preconceito, intolerância, violência e monstruosidade.
Hitler e muitos outros- tiranos ou não – se espantariam caso houvesse chegado às suas mãos um pequeno caderno no qual Antonio de Almeida Prado, um sertanejo brasileiro escrevera: “... Na área urbana serão vendidos lotes sem se cogitar das opiniões religiosas ou políticas de quem os pretender.”
Nascia mais uma cidade no Oeste Paulista e os versos do belíssimo samba-enredo de 1989 “Liberdade, Liberdade Abre as Asas Sobre Nós” da Imperatriz Leopoldinense poderiam ter sido trilha sonora para a história dessa pequena cidade nascida em 23 de abril de 1923, que teve como fundadores Antonio de Almeida Prado (que generosamente doou 10 alqueires de suas terras) e Chico Maria (articulador, mediador político e “diplomata” da paz). Muitos pioneiros sertanejos indignados e cansados das perseguições políticas e religiosas que marcavam o povoado de São Roque e incidiam brutalmente sobre os protestantes que ali viviam, sonharam com uma terra batizada de LIBERDADE e na qual a IGUALDADE fosse feita sua voz. Assim nascia IEPÊ: de um sonho de liberdade expresso em uma palavra Tupi-Guarani que poeticamente traduziu esse sentimento.
Esse nascimento foi singular e especial, pois as ideias e ideais que fecundaram e nortearam a fundação dessa cidade eram modernas e revolucionárias demais para a época, considerando que ainda hoje, em 2012, as lutas pelos direitos de inclusão social, tolerância e respeito às diversidades individuais e culturais são globais e a construção de uma Cultura de Paz não é mais uma utopia, mas uma necessidade da humanidade.
Passeando pelo tempo em que Liberdade (depois chamada Iepê) nascia, nos deparamos com uma frase de Chico Maria que sintetiza o alicerce filosófico no qual a cidade se ergueria: “UMA TERRA PARA TODOS”. Essa frase poderia ter sido ouvida e assimilada por muitos chefes de Estado da época, mas, infelizmente não foi, como a História nos mostra. “UMA TERRA PARA TODOS” grita a ideia (para quem se dispuser a ouvir) da IGUALDADE na DIFERENÇA, e o que parece ser um paradoxo insolúvel até nossos dias, foi sentido na carne e transposto por um bando de sertanejos discriminados e perseguidos que sem utilizar uma arma de fogo, plantou em 1923 não um GUETO, mas uma cidade na qual reinaria a nítida percepção que as diferenças existem e que sempre existirão e que, por isso mesmo, todos que ali vivessem teriam o direito a Igualdade, mas uma Igualdade calcada na tolerância e no respeito às diversidades Culturais, não numa “pureza” de qualquer ordem.
Esses pioneiros plantaram em terras vermelhas do Oeste Paulista além de uma pequena cidade um PATRIMÔNIO IMATERIAL: a CONCEPÇÃO de uma TERRA PARA TODOS alicerçada na LIBERDADE e na IGUALDADE, sempre a caminho da CONSTRUÇÃO de uma real e possível CULTURA de PAZ. Iepê, portanto, não possui ouro ou prata para exportar, mas detém um valioso legado histórico-cultural encarnado em forma de cidade no Oeste Paulista.
Nê, como sempre, o seu texto está maravilhoso. Ótimo ponto de vista focado no texto, ou melhor, a essência dos fundadores de Iepê.
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