segunda-feira, 4 de maio de 2015


TODOS OS BICHOS DE NÊ SANT’ANNA









SOBRE AMORES E CONVITES
Se hoje eu estou aqui, escrevendo para vocês, é porque o tempo começou a bordar minha história 100 anos atrás, quando os meus avós paternos convidavam para o seu casamento. Meu pai emoldurou uma cópia desse convite, preservando essa memória. Para a coluna de maio, garimpei nos “bordados do tempo” preservados no Acervo Histórico Digitalizado Chico Maria outros convites de casamento e, nos meus poemas algumas facetas e nuances sobre o amor. Para outros “garimpeiros”, informo que o Acervo Histórico Digitalizado Chico Maria está disponível para consulta no Ponto de Cultura e no MHIPI. 



VÍCIO

Amor adolescente
deixa marcas na gente:
às vezes nos flagramos
numa busca frustrante,
da sensação primeira e eletrizante,
em todos os outros amores... inexistente.

LABAREDAS

Fogo...
Fogo vivo,
ardendo em chamas vermelhas,
inflamando uma história.

Fogo...
Fogo ardente,
labaredas escaldantes,
consumindo a cama.

Fogo...
Fogo brando,
fogo morno,
nuances azuis,
queimando na lareira,
esquentando os pés.

Fogo...
Fogo calmo,
leves brasas,
refletindo a brancura dos lençóis castos,
transparentes.
Fogo...
Quase nada,
as chamas acinzentadas,
não desenham labaredas.
O ar é morno,
e as noites... Iguais.

As labaredas se apagando...
Fogo?
Fogo morto!

(poema selecionado e publicado na Antologia do Mapa Cultural Paulista – edição 1995)

UM FLASH SOBRE O AMOR
Amor é território sem lei
sem ética, sem regras
sem fronteiras, sem pudores.
...
Amor sem paixão é morno
não pulsátil
não visceral
não leva ao inferno e ao céu.
(Em minutos,
 por qualquer gesto
 bobagem ou ciúme).
Amor com paixão é tesão na pele,
brigas madrugadas a dentro
instinto animal de marcar território
desejo de matar ou arrancar os olhos
de quem nunca – ao menos – se viu.
...
Amor “adulto” é sem graça,
lógico, racional
sexo burocrático
orgasmo sem gozo.
Amor adolescente (ainda que em qualquer idade),
é incerteza, frio na espinha
gozo sem sexo, fogo ardente.
É sentir os poros em brasa
por um olhar, um gesto
ou uma palavra.
É querer morrer num instante
e viver no seguinte,
sem o menor pudor de brigar,
de fazer bico, de fazer cócega,
de ter ciúme, de ser meio bicho!
(E até de ser invasivo).
...
Amor não tem explicação
lógica, senso crítico
muito menos de ridículo.
Mas, talvez, se não fosse assim
temperado a gozo e dor
não traria a sensação inebriante
de plenitude e momentânea  paz
que nada mais, no mundo, traz.
...
(Poetas não decodificam o amor
 poetas apenas apontam,
se é que apontam,
 nuances dessa  magia de pura incerteza

que  grande parte  dos amores permeia).


Um comentário:

  1. Lindo Nejme...acho que ainda guardo meu convite de casamento...é uma lembrança boa, mas a gente quase nem lembra de guardar isso né? Bjs!

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