quarta-feira, 13 de março de 2013

MÚLTIPLOS OLHARES



TODOS OS BICHOS DE NÊ SANT’ANNA



DIA 13/3 DO ANO DE 2013: 13 ANOS DA SACI: NOVO ENDEREÇO, MESMA DETERMINAÇÃO E COMPROMETIMENTO COM A CULTURA, A ARTE E A LEITURA.




Despeço-me das velhas paredes que por tantos anos abrigou a Sociedade Amigos da Cultura [SACI], ao Ponto de Cultura de Iepê e a mim. Não sinto vergonha de dizer que lágrimas escorrem pelo meu rosto e sensações de nostalgia e tristeza me invadem. Talvez os índios Guarani ao abandonarem seus acampamentos também experimentassem esses sentimentos e, talvez, também por isso nos deixaram suas marcas abraçadas por séculos pela terra que um dia os abrigou.
Esses vestígios nos permitiram conhecer um pouco do modo como produziam sua subsistência e rituais, interagiam entre si e com a natureza, relações essas que antropologicamente denominamos Cultura, mas que eu chamo de VIDA.
E é VIDA que os museus abrigam. Vidas que fizeram História em um determinado Tempo e Espaço. Vidas que continuam a existir e a falar conosco quando nos dispomos a ouvi-las. Vidas que precisam do respeito de outras vozes para não perderem o “som” de sua Cultura.
Por anos emprestamos nossas vozes aos Guarani. Não retiramos seus vestígios da terra, mas propagamos a sua Cultura. Por anos os objetos de cerâmica e pedra do Museu de Arqueologia de Iepê contaram com nossas vozes para que os visitantes compreendessem seu real significado e não enxergassem somente simples objetos de argila e pedra, mas sim, a Cultura de um povo.
Por anos, também lutamos para melhorar o espaço físico do MAI e conseguimos. Porém, nosso sonho, abortado, era torná-lo um Museu interativo - que seria o primeiro de nossa região -, construir um segundo pavimento e utilizar o porão como cenário de uma aldeia Guarani, possibilitando dessa forma uma compreensão lúdica da Cultura desse povo, principalmente pelas crianças e jovens e assim, além do contato com a História e a Arqueologia, também estaríamos formando público apreciador e frequentador de espaços culturais (como é o próprio MAI), um dos principais objetivos da SACI e do Ponto de Cultura e por essa razão, NÃO pela falta de outro local próprio, é que esse espaço público, ao lado do MAI, do qual agora me despeço, é importante para nossos projetos, nos quais sempre incluímos o MAI.
Nós, da SACI e do Ponto, temos como Meta uma Política Cultural abrangente e substancial para Iepê e nesse sentido, há 13 anos estamos abrindo trilhas incansavelmente, sem desanimar com as pedras traiçoeiras do caminho. Começamos nosso trabalho atrás de um biombo na antiga biblioteca municipal, hoje somos também um Ponto de Cultura. Por nossa luta e espírito de parceria conquistamos para o município o cargo de Diretor de Cultura, o Cine Teatro Aurora, o Acervo Histórico Municipal “Chico Maria”, o Conselho Municipal de Cultura, o Prêmio IEPÊ de Poesia (em sua 6ª edição), o projeto Concertos de Leitura: Iepê cidade que lê!, um Ponto de Leitura, melhorias e divulgação do MAI, entre tantos outros.
O MAI, como um filho querido, por nós foi cuidado e acalentado. Não hesitei em interromper uns poucos dias de férias, para a pedido do Município, receber vereadores da Câmara de Maracaí, no dia 30 de janeiro de 2013. Foi meu último contato com esse filho e a última vez que o vi como o entregamos à sua direção: limpo, organizado, vivo e de portas abertas. Foi também a última vez que vi e emprestei minha voz à peça - para mim- mais significativa do acervo do MAI: uma minúscula tigela de argila provavelmente moldada por uma curuminha. Era assim, simples assim, sabiamente assim que a cultura Guarani era transmitida às gerações: pelo exemplo e pelas palavras.
A poeta Cecília Meirelles disse que os objetos falam conosco, pois carregam lembranças. Concordo. A pecinha de cerâmica moldada pela curuminha sempre “falou” comigo e através de mim, motivando-me nessa caminhada de anos de trabalho também em prol do MAI, numa parceria extremamente fecunda, fruto de amor e respeito pela Cultura Guarani e pelos sonhos alheios, como os do Patrono do MAI, Sr. Roberto Ekman Simões (de respeitosa, saudosa e digna memória).
Essas velhas paredes das quais me despeço e estão impregnadas da História da SACI , do Ponto de Cultura e da minha, guardarão para sempre nossa trajetória marcada pelo caráter, pelo compromisso com a Arte, a Literatura e a Cultura e pelo espírito de generosidade e parceria. Espírito esse que certamente também habitou a curuminha Guarani que, séculos atrás, moldou a pecinha de argila do acervo do MAI. E essas marcas, por mais que tentem, são inapagáveis...


E como continuaremos sempre atuantes e deixando marcas através de nosso trabalho, aproveito para divulgar o novo endereço, em espaço próprio, da SACI e do Ponto de Cultura à Rua Goiás, nº 364, centro e também reiterar nossa parceria com as instituições culturais (públicas ou privadas) do município e região.
Nesse ano que Iepê comemora 90 anos de fundação, a SACI e o Ponto de Cultura em parceria com a Secretaria de Educação e Cultura, o Departamento de Comunicação da Prefeitura Municipal, o Programa Acessa São Paulo Posto Iepê e o Museu Histórico da Igreja Presbiteriana Independente de Iepê estarão desenvolvendo o projeto “IEPÊ + CULTURA: há 90 anos Uma Terra Para Todos”, porque nossa cidade tem uma História especial, forte e inspiradora que merece ser divulgada e conhecida, pois Iepê nasceu por sonhos de Liberdade e de uma Cultura de Paz em 23 de abril de 1923. Seus fundadores foram Chico Maria e Antonio de Almeida Prado (que doou 10 alqueires de terras para que esses sonhos se realizassem).
Inspirados por essas raízes histórico-culturais e pelo legado de nossos pioneiros e fundadores, nós da SACI e do Ponto de Cultura não esmorecemos e continuamos trabalhando por nossos sonhos e projetos na área literária, artística e cultural.



RECADINHOS FINAIS: 1- O VI PRÊMIO IEPÊ DE POESIA já está com as inscrições abertas, confiram o regulamento nesse blog e participem!
2- Estamos semeando e formando público apreciador da Cultura, da Arte e da Literatura, fruto incontestável que colhemos de nosso trabalho foi o gesto do Zezinho, que desde seu nascimento participou dos projetos da SACI, e cedeu seu próprio quarto para abrigar-nos. Só esse gesto compensou toda a caminhada desses 13 anos. Os que se acham “donos do mundo” deveriam espelhar-se no gesto desse menino de nove anos e absorver um pouco de sua generosidade, caráter, espírito de parceria e verdadeiro amor pela Cultura, Arte e Literatura. Valeu, Zezinho! Aliás, Zezinho além de generoso é um grande desenhista e logo compartilhará seus trabalhos com todos nós. Como já disse semana passada: Quem É, É. Simples Assim!


Espaço que abrigou o Ponto de Cultura de Iepê,
Ponto de Leitura e Sociedade Amigos da Cultura de Iepê

2 comentários:

  1. Ao ler o texto, me emociono tambem com as paredes do MAI, com as paredes do PONTO DE CULTURA, pois durante decadas, a nossa cidade não encontrava uma forma de divulgar e fomentar sua cultura de PAZ e que em Guarani, pela tradução fiel a sua cultura e lingua, o significado mais proximo para a palavra LIBERDADE e IEPÊ, se traduza no UNO, ou de unicidade, que mesmo depois de quase 1900 anos ainda tenha um significado tão forte, e que infelizmente, nos dias de hoje, algumas pessoas insistem em não entender.
    Essas mesmas pessoas que por algum tempo, deixaram de fazer algo para que a palavra indigena que gentilmente batiza nosso municpio, pudesse fazer sentido, hoje buscam atravez das suas ações ou atitudes, descaracterizar, ou simplesmente, enterrar novamente, o sentido de unicidade ou liberdade.
    O Ponto de Cultura, sonho tão acalentado e hoje uma realidade em nossa cidade, em seus inumeros projetos sociais, culturais, artisticos, sempre buscou por intermedio deles construir um projeto de cidadania e cultura de paz em nossa cidade.
    Mas e com imensa felicidade que contemplo a disposição desse espaço, em novo local de tabalho, desapegado de ranços, sejam eles quais forem.
    Cumprimento a SACI e o PONTO DE CULTURA, pela sua ardua e proficua luta e engajamento.
    Junior

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  2. Talvez a resposta para essas pessoas que insistem em desprezar os bons projetos e o excelente trabalho do PONTO DE CULTURA, esteja em ECLESIASTES 3, como diria o sabio escritor do livro, "Tudo tem seu tempo debaixo do céu e acima da terra..."
    Ou como diria Che " Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás" e outra muito peculiar "As tantas rosas que os poderosos matem nunca conseguirão deter a primavera."
    E para citar outro poeta e filosofo " Sou brasileiro, não desisto nunca".
    Obrigado pessoal do PONTO, por não desistir, e por nau perder a ternura nunca e mais ainda por ensinar as sabias palavras do escritor, tudo a seu tempo.
    bjos e contem comigo sempre

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